Carta para Você que Perguntou por Mim

 

Ontem me disseram que você perguntou por mim. Eu até fiquei surpresa, e não nego, alegre. Porque tudo que eu queria era sumir da sua vida, era você se perguntar aonde eu estaria, eu que te consumi tanto e implorei tanto pelo seu amor. E finalmente você perguntou aonde eu estaria.

Pois eu estou aqui, no mesmo lugar. Sempre em casa, raramente saio, minha vida, que antes de te conhecer, era sexualmente ativa, hoje é praticamente inativa. Fechei-me, e não acho mais as pessoas tão interessantes, relacionamento é uma coisa que me dá um cansaço só em pensar.

Muitos homens interessantes se aproximaram de mim, talvez até mais ricos que você. Eu tenho deles uma coisa que eu não tenho de você, o querer. Mas eu não quero, me desculpa, universo, mas agora eu não quero. Não estou pronta emocionalmente para investir de novo numa relação. Talvez eu seja mesmo burra, ou esteja perdendo tempo. Mas eu prefiro mesmo ser uma burra que não arriscou, do que uma burra que arriscou e perdeu.

Quando lembro de Giovanni me bate um arrependimento de ter arriscado. O que eu ganhei com isso? Eu só perdi, e perdi muito. Perdi tanto porque perdi a razão, agi somente pela emoção, pelo calor da paixão. Muitas vezes eu cheguei a pensar que minha vida acabou.

Mas não acabou nada, talvez ainda tenha muito filho da puta que me faça sentir coisa parecida com o que eu senti com ele. Mas pelo que eu me conheço, vai demorar um bom tempo, não sou de me envolver com facilidade, mas quando me envolvo é uma entrega de corpo e alma.

Pois a você que perguntou por mim, eu continuo por aqui, mais mal cuidada, com a sobrancelha para tirar e cabelo para pintar. Pela primeira vez na minha vida depois que entrei na universidade, to tentando estudar, recuperar o prejuízo, a dedicação que tantas vezes eu desperdicei me dedicando a relacionamentos. Quase não trepo, há meses que eu não sei o que é uma pica, e cada dia menos falta disso eu sinto. E quanto a essa paixão mal resolvida, eu vou tentando esquecer a cada dia, virar a página, apagar uma lembrança, trocar o pensamento, mas tem horas que bate uma agonia, me dá vontade de gritar. Chegou uma fase que nem lágrimas mais eu tenho para chorar.

E até hoje, eu penso, penso e não vejo uma razão para tanto desprezo.